Mar e fogo
Enquanto caminhavam junto ao mar pela praia deserta em tempo de confinamento, ela perguntou-lhe:
-Gostas mais de olhar o mar ou olhar o fogo?
Ele pensou em silêncio durante alguns segundos enquanto mantia a cabeça baixa olhando a areia, continuando a caminhar.
Levantou a cabeça, olhou o mar, esboçou um sorriso e respondeu:
-São diferentes.
Após mais alguns segundos em silêncio e mais alguns passos na caminhada que faziam, acrescentou:
-O fogo é intenso. Acho que quando olhamos o fogo, a chama, somos levados para longe, para uma outra dimensão e por alguns momentos esquecemos tudo á nossa volta, esvaziamos a mente. No entanto certamente não passamos uma manhã ou uma tarde inteira a olhar para algo a arder. O mar é diferente. Podemos observá-lo durante horas ou podemos simplesmente ouvi-lo enquanto pensamos noutras coisas com tranquilidade.
-Sim, bem visto. Tens razão. -Disse ela sorrindo.
De seguida ele acrescentou:
-Precisamos dos dois. Há momentos para olhar o mar, há momentos para olhar o fogo. Tal como precisamos da agitação da cidade e da tranquilidade do campo. Tal como precisamos do sol ou da sombra, do Verão ou do Inverno. De amor e carinho, de paixão e loucura. Umas vezes queremos seguir caminho pela auto estrada, outras seguimos pelo caminho mais lento.
A seguir parou de caminhar colocando-se em frente a ela. Olhou-a nos olhos, passou a mão pelo rosto dela e disse:
-A nossa vida não é determinada por uma fórmula matemática. O que hoje queremos ou precisamos poderá não ser o mesmo amanhã. Nem tudo é sempre branco ou preto. Mas há algo que está acima dessa volatilidade, algo que sei que vou querer quando olhar o fogo ou o mar, quer esteja na praia ou no campo, no Verão ou no Inverno. É a tua presença na minha vida.